Pensar é sempre um ato situado dentro do tempo e do espaço e sujeito às vicissitudes e inflexões do tempo. A filosofia, embora frequentemente apresentada como um saber universal cosmopolita e com pretensões de ser a palavra final em tudo, nasce, cresce e se desenvolve em contextos históricos situados, reverberando os traços culturais e geográficos específicos nos quais ela é gestada, travada como luta, às vezes, e desenvolvida. A tradição clássica europeia hegemônica, que moldou o cânone filosófico ocidental, emergiu da Grécia Antiga, consolidou-se no Império Romano, foi reinterpretada pela escolástica medieval e transformada e ressignificada, novamente, pelos filósofos modernos e contemporâneos. Ao longo dos séculos, ela se afirmou como a principal linguagem do pensamento racional, da ética, da estética e da política no Ocidente.
No entanto, outras formas de pensamento coexistiram e resistiram ao apagamento imposto pela colonização e exploração predatória dos povos dominantes. Em especial, nas regiões colonizadas, como a Amazônia, o encontro entre os saberes ancestrais tradicionais e o projeto colonial predador europeu gerou tensões profundas, rupturas gigantes, silenciamentos absurdos – mas também sínteses criativas e renovadoras. A filosofia decolonial surge justamente dessa necessidade de pensar a partir de um outro lugar: da margem da história, da fronteira da exclusão, da diferença que interpela fortemente. E, no contexto amazônico, esse pensamento assume formas específicas, enraizadas nas cosmovisões indígenas, nos saberes ribeirinhos, nas práticas quilombolas e na experiência de resistência dos povos da floresta.