Lamentavelmente, é necessário entender que, apesar de desenvolvimentos na ciência, vivemos numa época propícia à proliferação de compreensões obscurantistas, tudo isso quando avançamos na compreensão do Bóson de Higgs e experimentamos progresso significativos na produção de nanotecnologia.
Fazer esforço teórico-empírico em um cenário em que aproximadamente 11 milhões de brasileiros ainda acreditam que a terra é plana -segundo pesquisa do Datafolha-, mesmo sabendo que ela não tem este formato desde século XVII com Galileu (sem esquecer que os gregos indicavam essa possibilidade há mais de 2000 anos) – constitui desafio e compromisso acadêmico com a democratização do saber.
Goethe (poeta, romancista e dramaturgo alemão do século XVIII) escreveu que “Não há nada mais terrível que a ignorância”. Por isso que fazer Ciência significa combater a ignorância e investir no gigantesco universo desconhecido que nos rodeia e impõem limites a compreensão do mundo físico e social. Por outro lado, a busca incessante e corajosa pelo conhecimento deveria contribuir para uma concepção epistêmica mais humilde do processo de construção do conhecimento e não moldar um ethos carregada de um tosco pedantismo acadêmico.
Num cenário sociopolítico em que parece habitual se fundamentar em fake News para definir, por exemplo, o candidato à presidência dessa república, entendemos perfeitamente a preocupação do pastor e ativista político Martin Luther King quando nos fala que “Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância”.
Mas é oportuno esclarecer que a Ciência, enquanto patrimônio da sociedade, deveria ter compromisso com a verdade, sem esquecer, no entanto, que, sendo uma atividade humana, possui limites. Daí a importância do exercício epistemológico e ético em nossas produções científicas, sempre considerando a dimensão provisória e inacabada do conhecimento.
Um dos papéis sociais da universidade é a produção e disseminação do conhecimento científico. A educação superior, em sua concepção humboldtiana, desde as origens do Estado moderno, assume essa responsabilidade por meio do ensino, pesquisa e extensão, embora o caráter instrumental ditado pelo modo de produção capitalista se sobressaia e exclua do acesso ao saber significativas parcelas sociais que historicamente sempre tiveram mais dificuldades de ingressar em uma universidade pública.
No que tange especificamente o espaço-tempo da Universidade do Estado do Pará (uma das mais interiorizadas do Brasil), ainda há dificuldades hercúleas para a produção e disseminação do conhecimento científico, sobretudo em Núcleos Regionais como o da cidade de Moju.
No entanto, esse cenário, não desanimou um grupo de docentes e discentes que ousam enveredar pelas escarpadas veredas da produção científica. Ainda são produções insipientes, mas que atestam o corajoso esforço coletivo e o compromisso acadêmico com um dos pilares da universidade: a pesquisa.
A produção dessa obra é resultado de um esforço coletivo de docentes e discentes da interiorização que enfrentam todas as dificuldades para fazer iniciar um processo de produção científica que procure entender melhor o contexto do Baixo Tocantins, suas singularidades e especificidades dessa parte da Amazônia.
Trata-se da socialização de um conjunto de investigações que esperam dar uma modesta contribuição acadêmica a interpretação da realidade educacional da Amazônia e cujos desafios ofereceram aos produtores dessa obra muitas dificuldades, mas também possibilidades de diálogo multi e interdisciplinar. E essa característica do conjunto de artigos que compõem este livro é muito mais uma exigência colocada pela necessidade de se estudar a Amazônia em suas múltiplas especificidades.
Em contexto de avanço de pensamentos obscurantistas, exemplificado nas compreensões terraplanistas, na negação das mudanças climáticas, nos movimentos antivacina, acreditamos que a educação possa representar algum antídoto às noções baseadas na falseabilidade e concepções irracionais da existência humana.
Essa obra está comporta de 12 capítulos que versão sobre pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo Universitário Regional do Baixo Tocantins- UEPA, os mesmos estão divididos da seguinte forma:
O capítulo 1 mostra análise do nível de letramento em discentes de escola pública da comunidade quilombola “São Miguel do Juquiri”, destacando a importância do letramento crítico nas práticas de ensino, além de dar relevância a comunidade quilombola que representa grupo e identidade historicamente colocados a margem da sociedade. No capítulo 02 é possível encontrar pesquisa de revisão bibliográfica com foco na linguística histórica, o estudo abre espaço para diversas formas de pesquisa no que se refere a mudança linguística.
No capítulo 3 a percepção de discentes acerca do aluno com transtorno do espectro autista no espaço escolar: o desafio das diferenças na escola é o assunto apresentado por meio da investigar de que forma a percepção discente construída no espaço escolar pode contribuir para a inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista. Quanto ao capítulo 4, a pesquisa mostra as condições de trabalho docente, que em razão da precarização, tem uma relação bastante próxima com o processo de adoecimento dos professores. Nessa perspectiva buscou-se analisar as relações estabelecidas entre as condições de trabalho e o adoecimento docente.
O capítulo 5 intitulado Saberes tradicionais: os (pre) conceitos das linguageiras ribeirinhas em escola no Município de Abaetetuba/Pará discute sobre práticas excludentes de preconceito linguístico presentes no ambiente escolar. O capítulo 6 versa sobre o impacto da Política de Assistência Estudantil na permanência dos estudantes do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade do Estado do Pará/ Moju. A partir do método Materialismo Histórico Dialético, os resultados alcançados mostraram que a Bolsa Incentivo Acadêmico tem sido de suma importância para os estudantes permanecerem no curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade do Estado do Pará.
O capítulo 7 -apresenta reflexão sobre o ensino de probabilidade por meio de análise descritiva de livros didáticos e sequência didática-, como proposta metodológica para facilitar o ensino de probabilidades através dos conjuntos de atividades planejadas propostas pela estrutura das sequências didáticas. No capítulo 8 é possível se debruçar sobre a importância de ensinar aritmética e álgebra no ensino fundamental de forma integrada. Pesquisa constituída a partir da análise de pesquisas realizada por diversos autores com objetivo de realizar estudo da importância de integrar a aritmética e a álgebra no ensino fundamental.
Quanto ao capítulo 9- o mesmo apresenta pesquisa sobre Educação Especial na Educação de Jovens e Adultos com análise em matrículas de alunos com deficiência em Abaetetuba/PA-, a partir de análise feita em dados do Censo Escolar disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacional Anísio Teixeira, (INEP) do Ministério da Educação a partir da implementação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) nº 13.146/2015.
No capítulo 10 intitulado A importância do estudo e preservação da Montrichardia Linifera (aninga) nas escolas do Município de Igarapé-Miri/Pa, encontra-se pesquisa sobre a Montrichardia linifera (aninga) espécie encontrada facilmente na região amazônica, e que merece ser contextualizada nas escolas pelo seu importante papel biológico e ambiental no ecossistema de várzea, a pesquisa teve como objetivo o estudo e valorização da M. linifera Schott (aninga) como recurso didático a ser explorado no ensino fundamental nas escolas do município de Igarapé- Miri/ PA. Já o capítulo 11 discorre sobre a incidência da síndrome de Burnout nos professores da rede de ensino no município de Moju/PA, mostrando que a síndrome de Burnout é doença que afeta principalmente pessoas que desenvolve atividades/relações diretamente com outras pessoas, pois estão mais propensas ao esgotamento emocional. No trabalho aborda-se a síndrome, e as suas dimensões: exaustão emocional (EE), despersonalização (DE) e baixa realização profissional (RP).
O capítulo 12 a partir do objetivo de analisar quais os principais fatores intervenientes para a interação das novas tecnologias em duas escolas afastadas dos centros urbanos no interior do Pará, os autores apresentam reflexões sobre como estão sendo usadas as tecnologias como instrumento pedagógico no processo de ensino e aprendizagem nas escolas mais afastadas dos centros urbanos.